Dez anos após o atentado, Charlie Hebdo mostra que é “indestrutível”

Jornal satírico francês ​publica esta terça-feira, 7 de Janeiro, um número especial para assinalar os dez anos do atentado em que 12 pessoas foram mortas a tiro por dois irmãos que queriam "vingar" o que consideravam ser profanação do profeta Maomé.​

O Charlie Hebdo publica esta terça-feira um número especial para assinalar os dez anos do atentado, com cerca de 40 caricaturas. POOL New / REUTERS
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O Charlie Hebdo publica esta terça-feira um número especial para assinalar os dez anos do atentado, com cerca de 40 caricaturas. POOL New / REUTERS

O dia era 7 de Janeiro de 2015, 11h30 de uma manhã como tantas outras numa rua movimentada no centro de Paris. Em pouco mais de dois minutos, 11 pessoas foram mortas a tiro de kalashnikov por dois homens com a cara coberta que invadiram o edifício e a redacção do jornal satírico francês Charlie Hebdo. Outra mais haveria de morrer na rua – um polícia executado que tentou impedir a fuga dos autores do atentado em nome da Al-Qaeda da Península Arábica – e outras 11 ainda ficariam feridas.

Os artigos e cartoons da jornal foram utilizados como justificação para o ataque, perpetrado por dois irmãos franceses de origem argelina que queriam "vingar" o que consideravam ser a profanação do profeta Maomé. Entre as vítimas estavam oito membros da redacção do jornal: os designers Cabu, Charb, Honoré, Tignous e Wolinski, a psicanalista Elsa Cayat, o economista Bernard Maris e o revisor Mustapha Ourrad.

O ataque, que ocorreu na altura em que decorria a reunião semanal da equipa do jornal,​ originou uma das maiores caças ao homem dos tempos recentes em França. A polícia identificou os irmãos Said e Chérif Kouachi como os autores do ataque e tudo terminou dois dias depois num tiroteio nos arredores de Paris em que ambos foram mortos. O ataque levou a uma onda de solidariedade por todo o mundo nunca antes vista. Muito deste apoio foi organizado online através da hashtag #JeSuisCharlie (que significa, numa tradução literal, eu sou Charlie).

Passaram-se dez anos desde essa manhã, que deu início ao debate sobre a existência de limites à liberdade de expressão, que na última década não deixou a ordem do dia, e a um período negro na História recente de França, que seria palco de outros atentados terroristas ainda mais sangrentos. O Charlie Hebdo publica esta terça-feira um número especial para assinalar os dez anos do atentado, com cerca de 40 caricaturas, e em que a mensagem principal é a "indestrutibilidade" da liberdade de expressão.

A presidente da Comissão Europeia assinalou a ocasião num comunicado em que realça a “luta incansável contra o terrorismo e o fundamentalismo religioso”. “Os homens e mulheres do Charlie Hebdo foram assassinados pelo que representam: os valores de França e da Europa. Liberdade de expressão, democracia, pluralismo. Vamos honrar a sua memória e lutar incansavelmente contra o terrorismo e o fundamentalismo religioso”, dá conta um comunicado de Ursula von der Leyen na rede social X. Com agências

Homem segura exemplar do <i>Charlie Hebdo</i> para prestar homenagem às vítimas do ataque durante uma reunião na Place de la Republique, em Paris, em 7 de Janeiro de 2015
Homem segura exemplar do Charlie Hebdo para prestar homenagem às vítimas do ataque durante uma reunião na Place de la Republique, em Paris, em 7 de Janeiro de 2015 CHRISTIAN HARTMANN / REUTERS
A 7 de Janeiro de 2015, homens armados invadiram os escritórios de Paris do jornal satírico <i>Charlie Hebdo</i>, conhecido por satirizar o Islão radical, matando pelo menos 12 pessoas, incluindo dois agentes da polícia, no que, na altura, foi o pior ataque militante em solo francês das últimas décadas
A 7 de Janeiro de 2015, homens armados invadiram os escritórios de Paris do jornal satírico Charlie Hebdo, conhecido por satirizar o Islão radical, matando pelo menos 12 pessoas, incluindo dois agentes da polícia, no que, na altura, foi o pior ataque militante em solo francês das últimas décadas ALESSANDRO BIANCHI / REUTERS
Paris, 8 de Janeiro de 2015. Polícia anti-terrorismo francesa numa operação a nordeste de Paris depois de os dois irmãos suspeitos de estarem por trás do ataque ao jornal satírico terem sido avistados numa bomba de gasolina em Villers-Cotterets
Paris, 8 de Janeiro de 2015. Polícia anti-terrorismo francesa numa operação a nordeste de Paris depois de os dois irmãos suspeitos de estarem por trás do ataque ao jornal satírico terem sido avistados numa bomba de gasolina em Villers-Cotterets PASCAL ROSSIGNOL / REUTERS
Membros da polícia cercam edifício residencial durante operação na cidade de Reims, no leste da França, a 8 de Janeiro de 2015, um dia após o ataque à redacção do <i>Charlie Hebdo</i>
Membros da polícia cercam edifício residencial durante operação na cidade de Reims, no leste da França, a 8 de Janeiro de 2015, um dia após o ataque à redacção do Charlie Hebdo JACKY NAEGELEN / REUTERS
8 Janeiro de 2014. Centenas de pessoas reuniram-se nos Restauradores, em Lisboa, para prestar homenagem às vítimas do ataque em Paris
8 Janeiro de 2014. Centenas de pessoas reuniram-se nos Restauradores, em Lisboa, para prestar homenagem às vítimas do ataque em Paris Miguel Manso
Os artigos e <i>cartoons</i> da jornal foram utilizados como justificação para o ataque, perpetrado por dois irmãos franceses de origem argelina que queriam "vingar" o que consideravam a profanação do profeta Maomé
Os artigos e cartoons da jornal foram utilizados como justificação para o ataque, perpetrado por dois irmãos franceses de origem argelina que queriam "vingar" o que consideravam a profanação do profeta Maomé Miguel Manso
 O ataque levou a uma onda nunca antes vista de solidariedade por todo o mundo, inclusive em Portugal
O ataque levou a uma onda nunca antes vista de solidariedade por todo o mundo, inclusive em Portugal Miguel Manso
Muito deste apoio foi organizado online através da hashtag #JeSuisCharlie (que significa, numa tradução literal, eu sou Charlie)
Muito deste apoio foi organizado online através da hashtag #JeSuisCharlie (que significa, numa tradução literal, eu sou Charlie) Miguel Manso
Vigília pelas vítimas do ataque no bairro de Manhattan, em Nova Iorque, a 7 de Janeiro de 2015
Vigília pelas vítimas do ataque no bairro de Manhattan, em Nova Iorque, a 7 de Janeiro de 2015 CARLO ALLEGRI / REUTERS
Marcha de solidariedade nas ruas de Paris a 11 de Janeiro de 2015. Centenas de milhares de cidadãos franceses foram acompanhados por dezenas de líderes estrangeiros, entre eles árabes e representantes muçulmanos, numa marcha sem precedentes às vítimas do ataque
Marcha de solidariedade nas ruas de Paris a 11 de Janeiro de 2015. Centenas de milhares de cidadãos franceses foram acompanhados por dezenas de líderes estrangeiros, entre eles árabes e representantes muçulmanos, numa marcha sem precedentes às vítimas do ataque YVES HERMAN / REUTERS
Edição do semanário satírico francês intitulada "tout est pardonne" ("tudo está perdoado"), que mostra uma caricatura do profeta Maomé, em frente a um quiosque em Paris, a 14 de Janeiro de 2015. A primeira edição do jornal publicada após o ataque esgotou em poucos minutos em vários pontos de venda em toda a França, com pessoas a fazer fila para comprar o jornal. Foi estabelecida uma tiragem de até três milhões de exemplares para a “edição dos sobreviventes”, superando a tiragem habitual de 60 mil cópias
Edição do semanário satírico francês intitulada "tout est pardonne" ("tudo está perdoado"), que mostra uma caricatura do profeta Maomé, em frente a um quiosque em Paris, a 14 de Janeiro de 2015. A primeira edição do jornal publicada após o ataque esgotou em poucos minutos em vários pontos de venda em toda a França, com pessoas a fazer fila para comprar o jornal. Foi estabelecida uma tiragem de até três milhões de exemplares para a “edição dos sobreviventes”, superando a tiragem habitual de 60 mil cópias STEPHANE MAHE / REUTERS
A publicação não é conhecida por gerar consensos. Na imagem, um homem protesta contra a publicação do jornal em frente à embaixada da França em Sanaa, Iémen
A publicação não é conhecida por gerar consensos. Na imagem, um homem protesta contra a publicação do jornal em frente à embaixada da França em Sanaa, Iémen MOHAMED AL-SAYAGHI / REUTERS
Protesto contra a publicação do jornal em Lahore, Paquistão
Protesto contra a publicação do jornal em Lahore, Paquistão MANI RANA / REUTERS
Na altura do primeiro aniversário, o jornal escrevia: "Um ano depois e o assassino ainda está à solta
Na altura do primeiro aniversário, o jornal escrevia: "Um ano depois e o assassino ainda está à solta BENOIT TESSIER / REUTERS
Manifestação pelas vítimas do ataque no Porto, a 9 de Janeiro de 2015
Manifestação pelas vítimas do ataque no Porto, a 9 de Janeiro de 2015 MJG Maria Joao Gala
Passaram-se dez anos desde essa manhã, que deu início ao debate sobre a existência de limites à liberdade de expressão, que na última década não deixou a ordem do dia, e a um período negro na História recente de França, que seria palco de outros atentados terroristas ainda mais sangrentos
Passaram-se dez anos desde essa manhã, que deu início ao debate sobre a existência de limites à liberdade de expressão, que na última década não deixou a ordem do dia, e a um período negro na História recente de França, que seria palco de outros atentados terroristas ainda mais sangrentos ERIC GAILLARD / REUTERS
Painéis com os olhos do editor do <i>Charlie Hebdo</i>, Stephane Charbonnier, conhecido como Charb, que foi morto durante um ataque. Marcha nas ruas de Paris, a 11 de Janeiro de 2015
Painéis com os olhos do editor do Charlie Hebdo, Stephane Charbonnier, conhecido como Charb, que foi morto durante um ataque. Marcha nas ruas de Paris, a 11 de Janeiro de 2015 CHARLES PLATIAU / REUTERS
 O ataque levou a uma onda nunca antes vista de solidariedade por todo o mundo, inclusive em Portugal. Imagem de uma vigília em Lisboa, dias depois do ataque
O ataque levou a uma onda nunca antes vista de solidariedade por todo o mundo, inclusive em Portugal. Imagem de uma vigília em Lisboa, dias depois do ataque Miguel Manso
Frase "Somos todos Charlie" na fachada do Instituto do Mundo Árabe (IMA) em Paris, a 14 de Janeiro de 2015,Frase "Somos todos Charlie" na fachada do Instituto do Mundo Árabe (IMA) em Paris, a 14 de Janeiro de 2015
Frase "Somos todos Charlie" na fachada do Instituto do Mundo Árabe (IMA) em Paris, a 14 de Janeiro de 2015,Frase "Somos todos Charlie" na fachada do Instituto do Mundo Árabe (IMA) em Paris, a 14 de Janeiro de 2015 YOUSSEF BOUDLAL / REUTERS
Membros do Parlamento Europeu e cidadãos reúnem-se durante um minuto de silêncio pelas vítimas do tiroteio em frente ao Parlamento em Bruxelas, a 8 de Janeiro de 2015
Membros do Parlamento Europeu e cidadãos reúnem-se durante um minuto de silêncio pelas vítimas do tiroteio em frente ao Parlamento em Bruxelas, a 8 de Janeiro de 2015 FRANCOIS LENOIR / REUTERS
Manifestação em frente à Câmara Municipal do Porto de solidariedade com as vítimas do ataque em Paris, a 9 de Janeiro de 2015
Manifestação em frente à Câmara Municipal do Porto de solidariedade com as vítimas do ataque em Paris, a 9 de Janeiro de 2015 MJG Maria Joao Gala
Homem segura um lápis gigante durante marcha de solidariedade nas ruas de Paris após o tiroteio no <i>Charlie Hebdo</i>, 11 de Janeiro de 2015,Homem segura um lápis gigante durante marcha de solidariedade nas ruas de Paris após o tiroteio no <i>Charlie Hebdo</i>, 11 de Janeiro de 2015
Homem segura um lápis gigante durante marcha de solidariedade nas ruas de Paris após o tiroteio no Charlie Hebdo, 11 de Janeiro de 2015,Homem segura um lápis gigante durante marcha de solidariedade nas ruas de Paris após o tiroteio no Charlie Hebdo, 11 de Janeiro de 2015 STEPHANE MAHE / REUTERS
O <i>Charlie Hebdo</i> publica esta terça-feira um número especial para assinalar os dez anos do atentado, com cerca de 40 caricaturas.
O Charlie Hebdo publica esta terça-feira um número especial para assinalar os dez anos do atentado, com cerca de 40 caricaturas. POOL New / REUTERS
Homenagem na Place de la Republique em Paris, França, um ano após o ataque ao jornal satírico
Homenagem na Place de la Republique em Paris, França, um ano após o ataque ao jornal satírico POOL / REUTERS
Mulher segura a polémica capa do semanário satírico <i>Charlie Hebdo</i> que contem as caricaturas do profeta Maomé durante uma manifestação contra o terrorismo e para prestar homenagem após o assassinato do professor francês Samuel Paty, em Paris, França, a 18 de Outubro de 2020
Mulher segura a polémica capa do semanário satírico Charlie Hebdo que contem as caricaturas do profeta Maomé durante uma manifestação contra o terrorismo e para prestar homenagem após o assassinato do professor francês Samuel Paty, em Paris, França, a 18 de Outubro de 2020 YOAN VALAT / EPA
Exemplar da última edição jornal, que assinala o décimo aniversário do tiroteio que resultou na morte de 12 dos seus funcionários pelos irmãos Kouachi
Exemplar da última edição jornal, que assinala o décimo aniversário do tiroteio que resultou na morte de 12 dos seus funcionários pelos irmãos Kouachi TERESA SUAREZ / EPA
Os artigos e cartoons da jornal foram utilizados como justificação para o ataque de Janeiro de 2025, perpetrado por dois irmãos franceses de origem argelina que queriam "vingar" o que consideravam a profanação do profeta Maomé
Os artigos e cartoons da jornal foram utilizados como justificação para o ataque de Janeiro de 2025, perpetrado por dois irmãos franceses de origem argelina que queriam "vingar" o que consideravam a profanação do profeta Maomé TERESA SUAREZ / EPA
Coroa de flores enviada pela equipa do Charlie Hebdo para cerimónias que marcam os dez anos desde o ataque à redacção do jornal
Coroa de flores enviada pela equipa do Charlie Hebdo para cerimónias que marcam os dez anos desde o ataque à redacção do jornal LUDOVIC MARIN / POOL / EPA
O Presidente da França, Emmanuel Macron, ladeado pela sua esposa, Brigitte Macron e pela presidente da Câmara de Paris, Anne Hidalgo,  entre outras figuras do Governo da França, participam numa colocação de coroas de flores em homenagem às vitimas do ataque nesta terça-feira, 7 de Janeiro de 2025
O Presidente da França, Emmanuel Macron, ladeado pela sua esposa, Brigitte Macron e pela presidente da Câmara de Paris, Anne Hidalgo, entre outras figuras do Governo da França, participam numa colocação de coroas de flores em homenagem às vitimas do ataque nesta terça-feira, 7 de Janeiro de 2025 LUDOVIC MARIN / VIA REUTERS
No dia seguinte ao ataque, jornais de todo o mundo fizerem dele as suas primeiras páginas. A capa do PÚBLICO de 8 de Janeiro de 2015
No dia seguinte ao ataque, jornais de todo o mundo fizerem dele as suas primeiras páginas. A capa do PÚBLICO de 8 de Janeiro de 2015
A capa do <i>Le Figaro</i>, França
A capa do Le Figaro, França
Capa do <i>Jornal de Notícias</i>
Capa do Jornal de Notícias Julie CLORIS�
Capa no <i> Diário de Notícias</i>
Capa no Diário de Notícias
<i>The Guardian</i>, Reino Unido
The Guardian, Reino Unido
<i>Libération</i>, França
Libération, França