General apoiado pelo Ocidente eleito Presidente do Líbano
Escolha de Joseph Aoun pelo Parlamento libanês mostra a perda de influência do Hezbollah, apoiado pelo Irão. Cargo estava vago desde 2022.
O Parlamento do Líbano elegeu o chefe do Exército Joseph Aoun como Presidente, esta quinta-feira, preenchendo um cargo que estava vago desde 2022 com um general apoiado pelos EUA e aliados ocidentais e mostrando o enfraquecimento do Hezbollah, apoiado pelo Irão, após a sua guerra devastadora com Israel.
Num discurso perante os deputados, Aoun, 60 anos, prometeu trabalhar para garantir que o Estado tenha o direito exclusivo do porte de armas, arrancando aplausos sonoros, enquanto os deputados do Hezbollah - que dirige as suas próprias forças militares - se mantinham sentados.
Aoun comprometeu-se a reconstruir o Sul do Líbano e outras partes do país que disse terem sido destruídas por Israel, e também impedir os ataques israelitas ao país, que já estava mergulhado em profundas crises económicas e políticas antes do último conflito. A sua eleição reflectiu alterações no equilíbrio de poder no Líbano e no Médio Oriente, com o Hezbollah xiita fortemente diminuído pela guerra do ano passado, e com a queda em Dezembro do seu aliado sírio Bashar al-Assad.
A eleição de Joseph Aoun é também um sinal do renascimento da influência saudita num país onde o papel de Riade foi há muito eclipsado pelo Irão e pelo Hezbollah. O ministro israelita dos Negócios Estrangeiros, Gideon Saar, felicitou o Líbano, afirmando na rede social X que esperava que a eleição de Aoun contribuísse para a estabilidade e para boas relações entre os países vizinhos.
A embaixadora norte-americana Lisa Johnson, presente na sessão, disse à Reuters que estava "muito feliz" com a eleição de Aoun.
A presidência, reservada a um cristão maronita no sistema sectário de partilha de poder do Líbano, está vaga desde que o mandato de Michel Aoun terminou em Outubro de 2022, com as facções profundamente divididas incapazes de chegar a acordo sobre um candidato capaz de obter votos suficientes no parlamento de 128 lugares.
Joseph Aoun não conseguiu os 86 votos necessários numa primeira volta, mas ultrapassou o limiar com 99 votos na segunda tentativa, depois de ter sido apoiado por deputados do Hezbollah e do seu aliado xiita, o Movimento Amal. Mohammed Raad, deputado do Hezbollah, afirmou que, ao atrasar o voto em Aoun, o grupo enviou uma mensagem: "somos os guardiões do consenso nacional".
O apoio a Aoun foi reforçado na quarta-feira, quando o candidato preferido do Hezbollah, Suleiman Frangieh, se retirou e declarou apoio ao comandante do Exército, e após a pressão exercida pelos enviados de França e da Arábia Saudita, apelando à sua eleição em reuniões com políticos, segundo três fontes da política libanesa.
Uma fonte próxima da corte real saudita disse que enviados franceses, sauditas e norte-americanos disseram ao presidente do Parlamento, Nabih Berri, um aliado próximo do Hezbollah, que a assistência financeira internacional - incluindo da Arábia Saudita - dependia da eleição de Aoun. "Há uma mensagem muito clara da comunidade internacional de que está pronta a apoiar o Líbano, mas que precisa de um Presidente, de um governo", disse à Reuters Michel Mouawad, um deputado cristão opositor que votou em Aoun. "Recebemos uma mensagem de apoio da Arábia Saudita", acrescentou. O rei e o príncipe herdeiro sauditas também felicitaram Aoun.
França pede governo forte
A eleição do novo Presidente é um primeiro passo para reanimar as instituições governamentais num país que não tem um chefe de Estado nem um executivo com plenos poderes desde que Michel Aoun deixou o poder. O Líbano, cuja economia ainda está a recuperar de um colapso financeiro em 2019, precisa urgentemente de ajuda para se reconstruir da guerra, que o Banco Mundial estima ter custado ao país 8,5 mil milhões de dólares.
O sistema de governo libanês exige agora que Aoun consulte o Parlamento para nomear um primeiro-ministro muçulmano sunita para formar um novo gabinete, um processo que pode demorar dada a habitual disputa entre as facções pelas pastas ministeriais.
A França considera que a eleição de Aoun abre uma nova página para o Líbano. "A esta eleição deve seguir-se a nomeação de um governo forte" capaz de "levar a cabo as reformas necessárias à recuperação económica, à estabilidade, à segurança e à soberania do Líbano", declarou Christophe Lemoine, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros francês.
O novo Presidente desempenhou um papel fundamental acordo de cessar-fogo entre o Hezbollah e Israel, intermediado por Washington e Paris em Novembro. Os termos exigem que o Exército libanês se desloque para o Sul do Líbano à medida que Israel e o Hezbollah retiram as suas forças.
Os opositores da sua candidatura afirmaram que a eleição foi o resultado de pressões estrangeiras. O deputado Gebran Bassil, líder de uma das maiores facções cristãs, disse na sessão que muitos parlamentares tinham recebido "instruções do estrangeiro". Mas Melhem Riachi, outro deputado cristão que votou em Aoun, declarou que esta escolha marcou o fim do período marcado por "um rosto iraniano". É "a era da harmonia do Líbano com a comunidade internacional", frisou.