Trabalhadores da CGD denunciam “incumprimentos” de serviço público antes da audição de Paulo Macedo

CEO da Caixa será ouvido na próxima semana sobre redução de serviços e do número de trabalhadores em regiões do interior e nas ilhas.

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Redução de serviços leva Paulo Macedo ao Parlamento José Fernandes
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Praticamente a uma só voz, a comissão de trabalhadores da Caixa Geral de Depósitos (CGD) e o Sindicato dos Trabalhadores das Empresas do Grupo CGD denunciaram esta quarta-feira um conjunto de práticas que põem em causa a prestação do serviço público da instituição. As denúncias ocorrem no Parlamento, e ocorrem antes da audição do presidente da instituição, marcada para a próxima semana, a 14 de Janeiro, precisamente sobre a redução de serviços, de trabalhadores, com prejuízo para as populações.

A audição do presidente executivo da Caixa foi pedida pelo Partido Comunista Português, na sequência de um trabalho do PÚBLICO sobre a redução de serviços no interior e ilhas, limitando os levantamento e depósitos apenas a quem possui cartões bancários. Em causa está a transformação das agências tradicionais da caixa em Noma Smart, pequenos balcões sem serviço de tesouraria.

A Comissão de Orçamento, Finanças e Administração Pública (COFAP) começou por receber em audiência a Comissão de Trabalhadores (CT) da CGD, que denunciou a prática recente da CGD, que em vez de encerrar balcões, como fez até 2023, passou a transformar dezenas de balcões, que já ascendem a cerca de 60, em pequenas agências, sem serviço de tesouraria presencial, com limitação de horários e de funcionários, e sem cumprir “a carta de missão”, nomeadamente a garantir serviços completos em todos os municípios portugueses.

Na prática, “a estratégia recente da Caixa passa pela criação de mini-balcões, com um só funcionário, que não garantem as necessidades das populações, órgãos municipais e entidades públicas”, refere Jorge Canadelo, presidente da comissão de trabalhadores, em declarações ao PÚBLICO. Um processo que, diz, “deverá continuar”, admite.

Considerando que “é própria coesão territorial que está em causa”, Jorge Canadelo referiu que "por muitos milhões que sejam investidos em postos automáticos, se não for feita marcha-atrás e uma análise casuística, caso a caso, não é cumprido o serviço público bancário em plenitude". A CT alertou ainda para as condições de trabalho no banco público, com forte redução do número de trabalhadores, e para “situações de pressão nos locais de trabalho, que se transforma muito rapidamente em situações assediantes ou mesmo de concreto assédio".

Depois da audiência da CT, pedida no final do ano passado, foi a vez da COFAP ouvir a estrutura sindical mais representativa do banco público, o STEC - Sindicato dos Trabalhadores das Empresas do Grupo CGD, na sequência da petição “Por uma Caixa Geral de Depósitos ao Serviço do País que Valorize os Seus Trabalhadores", enviada à Assembleia da República, que contou com perto de 2800 assinaturas, um número que tornou obrigatória a sua discussão na comissão.

Smart sem lugares para clientes se sentarem

Na petição, e entre outras reivindicações, é pedido o fim do encerramento de balcões, a contratação de trabalhadores sem vínculo precário, o fim das práticas de assédio, mas também “a nomeação de uma administração comprometida na prossecução do desenvolvimento económico, social e territorial do país”. E ainda reivindicações salariais, nomeadamente “a recuperação dos anos de carreira dos trabalhadores, correspondente ao período entre 2013 e 2016”.

Aos deputados, o STEC justificou a petição pela “contínua degradação da missão da CGD enquanto banco público e contínua degradação das condições de trabalho e salariais do banco público”, assegurando que “a CGD actua como banco privado, continua a aumentar receitas pelas comissões cobradas (...)".

“O dia-a-dia das agências é caracterizado por trabalho intenso e em stress, falta gente para tanto trabalho. As máquinas, ao contrário do que a Caixa tenta passar não reduzem trabalho, aumentam-no, as filas acumulam-se, em esperas intermináveis, clientes sem sítio para se sentarem no novo modelo de agência, proporcionando agressões físicas e verbais a trabalhadores (...)” referiu ainda o sindicato.

Recorde-se que a propósito da transformação de agências com vários trabalhadores, com todos os serviços, a criação das Noma Smart, em que só é possível fazer levantamentos de numerário e depósitos através dos caixas automáticos, a administração liderada por Paulo Macedo tem garantido que não há redução de serviços.

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