Preço das casas pode baixar com reforço do investimento na UE, defende Maria Luís Albuquerque

Foi a primeira intervenção pública da nova comissária europeia dos Serviços Financeiros e União de Poupança e Investimento, desde a tomada de posse.

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Maria Luís Albuquerque disse esta terça-feira que no seu mandato como comissária quer reforçar o investimento privado na União Europeia e defendeu que mais investimento nas empresas, em vez de em activos imobiliários, permitirá baixar os preços das casas.

Maria Luís Albuquerque participou no Seminário Diplomático, em Lisboa, naquela que foi a sua primeira intervenção pública desde que tomou posse como comissária europeia, com a pasta dos Serviços Financeiros e União de Poupança e Investimento.

Para demonstrar a importância de reforçar os mercados financeiros, a comissária deu o exemplo do preço das casas que considerou que poderão diminuir se houver mais investimentos canalizados para empresas e menos para activos imobiliários.

"Se nós conseguirmos desviar significativamente mais recursos para o capital das empresas, vamos também reduzir os investimentos, por exemplo, no sector imobiliário, que também contribui para a pressão dos preços da habitação", disse.

Albuquerque disse que, durante os cinco anos de mandato, quer trabalhar para criar um mercado único de serviços financeiros e promover uma melhor alocação de recursos financeiros privados na União Europeia (UE) com vista a reforçar a competitividade europeia.

"O objectivo é que diminuam os casos em que os recursos europeus vão financiar boas ideias surgidas na Europa, mas em que o mercado que permite que as duas partes se encontrem de forma eficaz e eficiente está nos Estados Unidos", afirmou.

A comissária europeia disse que se estima que o valor de poupanças europeias desviadas para os Estados Unidos é na ordem de 300 mil milhões de euros, pelo que se esse valor ficasse na UE seria um impulso à competitividade comunitária.

A ex-ministra das Finanças (do Governo PSD/CDS-PP, liderado por Passos Coelho) acrescentou que vai dar prioridade à harmonização da regulamentação financeira (referiu que não há uma definição de accionista comum aos 27 Estados-membros) e à redução das barreiras aos investimentos e serviços transfronteiriços.

Citou um estudo recente do Fundo Monetário Internacional (FMI) segundo o qual a fragmentação dos mercados financeiros tem um impacto na UE semelhante a uma guerra comercial com os Estados Unidos.

Maria Luís Albuquerque considerou ainda que esse reforço dos mercados financeiros é importante para as poupanças dos particulares. Considerando que nos "depósitos bancários a rentabilidade não permite garantir isso [uma vida financeira segura em idade avançada]", defendeu que é preciso "dar opções de investimento".

No seminário diplomático houve lugar a perguntas, tendo sido uma da embaixadora Ana Gomes, que questionou sobre a desigualdade fiscal dentro da UE.

Maria Luís Albuquerque disse que a matéria fiscal não é sua responsabilidade e é uma discussão difícil na UE porque é uma competência vista como soberania de cada Estado-membro. Ainda assim, considerou que "haver esforço para maior harmonização fiscal, no caso do tratamento dado a investimentos transfronteiriços, será um importante contributo para a União de Poupanças e Investimento".

Em 1 de Dezembro passado, iniciou funções a nova equipa da Comissão Europeia, novamente presidida por Ursula von der Leyen.

O novo executivo comunitário é composto por 11 mulheres entre 27 nomes, uma das quais é a comissária indigitada por Portugal, Maria Luís Albuquerque (57 anos).

Na carta de missão, a líder do executivo comunitário pediu que a comissária portuguesa use a sua experiência no sector público (de ministra das Finanças e secretária de Estado do Tesouro) e no privado (após ter passado por empresas como a gestora de fundos europeia Arrow Global e o banco mundial Morgan Stanley) para "desbloquear montante substancial de investimento" na UE.

Antes de tomar posse, em Outubro, Maria Luís Albuquerque clarificou a sua declaração de interesses após ter sido questionada pela comissão parlamentar dos Assuntos Jurídicos.

Disse não ter "interesses financeiros" que possam ser declarados ou dar origem a um conflito de interesses e que nem ela nem a sua família directa possuem "quaisquer obrigações, acções ou outros activos ou passivos", além de uma casa para residência ou de edifícios herdados.