Fóssil de nova espécie de planta com 300 milhões de anos descoberto em Anadia

O fóssil encontrado no distrito de Aveiro tem uma “preservação excepcional” e mostra a adaptação ao clima desta planta há 300 milhões de anos.

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Espécime fóssil do feto Acitheca machadoi exibindo diferentes partes preservadas da fronde fértil DR
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Uma equipa de cientistas da Universidade de Coimbra descobriu um fóssil de planta, em Anadia, no distrito de Aveiro, que corresponde a uma nova espécie de fetos com 300 milhões de anos.

O feto primitivo já extinto, com cerca de 300 milhões de anos, foi descoberto nas formações geológicas de Anadia, pela equipa do Centro de Geociências da Faculdade de Ciências e Tecnologia conimbricense. “Este achado paleobotânico corresponde a uma nova espécie do género Acitheca, um grupo de fetos arbóreos maratileanos da já extinta família Psaroniaceae da ordem das Marattiales, caracterizado pelos seus esporângios alongados e soros sésseis”, descreveu o investigador Pedro Correia, primeiro autor do artigo científico na revista Review of Palaeobotany and Palynology, que anuncia esta descoberta.

A nova espécie, baptizada de Acitheca machadoi, é dedicada ao geólogo especializado em palinologia paleozóica Gil Machado, que estudou detalhadamente a estratigrafia (ramo da geologia que estuda os estratos ou camadas de rochas) e as floras palinológicas da Bacia Carbonífera do Buçaco, incluindo a secção estratigráfica onde o novo fóssil foi descoberto.

Esta Acitheca machadoi conserva esporângios (órgãos reprodutores da planta) em detalhe tridimensional e ainda com esporos ​in situ, ou seja, ainda no local. “É uma preservação excepcional e raramente encontrada em adpressões (tipo de fossilização por compressão) nas quais os fósseis vegetais do Carbónico desta região se encontram preservados”, afirmou o paleontólogo, acrescentando que este fóssil apresenta dos mais pequenos esporângios documentados para o género Acitheca.

A investigadora e co-autora do trabalho científico, Sofia Pereira, acredita que é provável que o tamanho reduzido dos esporângios corresponda a uma adaptação às condições mais secas que se faziam sentir no período Carbónico. “Afinal, esta é uma das adaptações mais escolhidas pelas plantas para enfrentar condições de pouca disponibilidade de água, permitindo-lhes conservar água, aumentar a eficiência energética e facilitar a libertação de esporos”, sublinhou.

“Embora na paleontologia tenhamos de esperar pelas próximas peças do puzzle, são já vários os sinais da transição de condições húmidas para secas nas associações de plantas fósseis da Bacia Carbonífera do Buçaco, espelhando a mudança climática global que se iniciou na passagem do período Carbónico para o período Pérmico, e que vai marcar este último período geológico do Paleozóico”, concluíram os investigadores. O período Paleozóico termina há cerca de 250 milhões de anos.

Com uma diversidade global relativamente baixa (conhecem-se menos de dez espécies), a Acitheca machadoi é o terceiro representante do género em Portugal, sugerindo que a sua diversidade a nível mundial poderá estar subestimada.