Falta avaliar impacte cumulativo das quatro novas centrais solares no Alqueva, alerta GEOTA

A capacidade solar total das quatro centrais é mais do dobro da capacidade de injecção do Alqueva, alerta a associação. Faltam estudos sobre o impacte conjunto.

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As centrais fotovoltaicas multiplicam-se no Alentejo Horacio Villalobos/Corbis via Getty Images
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A organização ambientalista GEOTA alertou para os impactes ambientais e sociais cumulativos da possível instalação de quatro centrais fotovoltaicas de grandes dimensões na zona de Alqueva, no Alentejo, apontando para a falta de planeamento e clareza.

Em comunicado, o Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA) considera que os quatro projectos "não são adequadamente considerados nos estudos de impacte ambiental (EIA)" de cada uma das centrais solares.

"Parece também haver falta de planeamento estratégico e pouca clareza sobre a viabilidade técnica da utilização do ponto de injecção na rede de transporte de electricidade da barragem do Alqueva para uma capacidade solar total que é mais do dobro da capacidade de injecção", salientou.

Quatro centrais avaliadas individualmente

O GEOTA realçou que são quatro as centrais em fase de licenciamento para este território.

A da Sobreira de Baixo terá uma potência instalada de 242 MW (megawatts) e uma área de 445 hectares; a do Alqueva, uma potência instalada de 432 MW, num terreno com 570 hectares. A central de Cristóvão Colombo I terá uma potência instalada de 474 MW e ocupará um terreno com 895 hectares, e a central flutuante, com uma potência instalada de 84 MW numa superfície com 250 hectares, inclui uma potência eólica de 70 MW.

Caso os quatro projectos avancem, contabilizou a organização ambientalista, as centrais terão no total 1,3 GW (gigawatt) de potência instalada (1232 MW de fotovoltaico e 70 MW de eólico) e ocuparão uma área total de cerca de 1700 hectares.

"É necessário esclarecer a compatibilidade dos quatro projectos para injectar electricidade na subestação do Alqueva, assegurando a estabilidade da rede e um reduzido nível de curtailment [encurtamento] da produção", sublinhou.

"Impactes irreversíveis"

Para o GEOTA, estes projectos, a concretizarem-se, "terão impactes negativos, significativos e em parte irreversíveis nos solos, linhas de água, paisagem, fauna e flora num território com valor ecológico relevante".

"Os EIA destacam a presença de várias espécies de fauna e flora ameaçadas e emblemáticas nas áreas propostas para as centrais solares, incluindo evidências da presença recente de lince ibérico", observou. Segundo a organização ambientalista, a construção das centrais solares da Sobreira de Baixo e do Alqueva implicará no total "o abate de 460 azinheiras e 22 sobreiros adultos".

"Considerando a dimensão dos projectos, as medidas de mitigação e de compensação, embora relevantes, são insuficientes e apresentam um potencial reduzido, pouco quantificável e dificilmente monitorizável a longo prazo", acrescenta o GEOTA.

Poucas contrapartidas para populações

Por outro lado, de acordo com o GEOTA, os projectos apresentam "poucas contrapartidas para a socioeconomia local, incluindo ao nível de geração de emprego", pois estão previstos "apenas dois empregos directos no caso da central da Sobreira de Baixo e quatro na central do Alqueva".

"O GEOTA urge os promotores a aumentarem a sua ambição na redução dos impactes das centrais e na sua compensação, por exemplo, reduzindo a dimensão da área afectada pela central, aumentando a área a reflorestar", frisou.

Acrescentou que também lhes pede que compatibilizem as centrais com outras actividades económicas e que beneficiem as comunidades locais com intervenções de reabilitação energética das habitações e de apoio à instalação de sistemas fotovoltaicos.

A Lusa tentou contactar para obter um comentário os presidentes das câmaras de Moura, Vidigueira e Portel, todas na zona de Alqueva, mas sem sucesso.