Olá.

Fim de ano, mais uma volta em torno do Sol, mesmo a pedir mais um balanço. Não? Tentemos que seja o mais disfarçado possível.

O ano começou tão simplesmente quanto a revista Wired titulava: "2024 vai ser um ano difícil para a TV". A greve de argumentistas e actores no Verão anterior tinha deixado um lastro previsível no maior exportador de programação do mundo, com produções atrasadas e concomitantes estreias demoradas. Ao mesmo tempo, acelerou o início da descida que se previa no streaming de audiovisual, pondo fim aos gastos soltos das plataformas em busca de domínio, sobrevivência ou relevância. A ideia de combater a Netflix mudou até mesmo dentro da Netflix, porque já não se quer só alardear a cada três meses que se lhe juntaram uns milhões de assinantes mas sim dizer aos investidores que entre a coluna do deve e do haver há um equilíbrio cada vez maior.

O resultado é o sabido, especialmente para os devoradores de séries. Este ano, a ideia de que há muita coisa a dar mas pouca coisa de jeito terá feito cada vez mais sentido. Nem todos os anos podem dar uns Sopranos, é certo, mas há temporadas que contêm muitos Mad Men e alguns Stranger Things e afins. (É sacrilégio dizer que Mad Men é uma grande série, mas não tão boa quanto Os Sopranos? É benzer.) Não foi o caso. Houve umas surpresas, como Baby Reindeer, Ninguém Quer Isto ou Não Digas Nada — tudo séries com um orçamento bem mais modesto do que Stranger Things ou a estreia de ontem de Squid Game 2.

Nos bastidores, milhares de trabalhadores foram despedidos e alguns chefes foram depostos. A Warner brincou com dunas e dragões, dançou com Joker e Lady Gaga, mas tem cerca de 40 mil milhões de euros de dívida. Começaram os números. Só mais um, pronto: neste momento, estima-se que é preciso ultrapassar a fasquia dos 200 milhões de assinantes para que um serviço seja rentável. Portanto, lá estamos nós outra vez com a Netflix, a Amazon e a Disney. E os preços a subir, salvo se quiser um pouco de publicidade com o seu "tudum".

O sonho do streaming parecia, a certa altura, ser não só a omnipotência do espectador tornado programador, mas também o da abundância de televisão de prestígio. Mas não. E mesmo as marcas conhecidas por essa produção voltaram-se este ano para os tais dragões e dunas, tentando fazer dos pinguins uma adaptação de comics, mas "prestige".

Na Europa, apesar das especificidades de cada país e sua relação com a televisão por subscrição e seus pacotes (bem estável e nada complicada em Portugal), gastaram-se 24 mil milhões de euros em assinaturas de streaming de vídeo em 2023. O número de subscrições deve continuar a subir até 2029, prevêem os dados do Statista, que confirma que os três serviços acima são os mais populares.

A Max não teve um ano brilhante em termos críticos, fora o tumulto interno da Warner que lhe dá ordens. Mas com a cauda das greves a chegar ao fim, 2025 trará zombies, mas "prestige", com The Last of Us, e a antologia de Mike White The White Lotus para uma nova viagem ao mundo dos ricos e homicidas. A influência destas plataformas multinacionais trará também mais Rabo de Peixe à portuguesa para a Netflix e já pôs autores portugueses, para além de actores, a trabalhar para serviços digitais estrangeiros de grande orçamento.

Visto daqui, 2025 será só mais um ano em que a televisão tradicional continuará a dar O Preço Certo e talvez uma boa surpresa com o Projecto Global de Ivo M. Ferreira, e em que o streaming terá You e Severance. A longa sombra do streaming ainda tem muito sol para a fazer esticar.

Netflix

Sexta-feira, 27 de Dezembro

Torching 2024: A Roast of the Year — Um espectáculo de roast não é para todos os gostos. Como Succession, porque alegadamente não há lá ninguém por quem sentir empatia, ou como Uncut Gems porque o ritmo dá náuseas. Bom, Jeff Ross, comediante que basicamente só é conhecido como autor de valentes "desancanços" a gente famosa que se presta a tal, é o anfitrião deste especial em que se passa em revista 2024.

Sábado, 28 de Dezembro

Sinfonia em Tons de Azul — Segunda e última temporada da série grega sobre um músico que organiza um festival numa ilha paradisíaca e seu romance e relações daí saídos.

Terça-feira, 31 de Dezembro

Michelle Buteau: A Buteau-ful Mind at Radio City Music Hall — Especial de stand-up.

Avicii – I'm Tim — Documentário sobre o DJ cujo nome de baptismo era Tim Bergling e que se tornou numa estrela do mundo da música electrónica e que morreu em Omã, em 2018. Narrado a partir das palavras do DJ, conta com testemunhos e da sua família, outros artistas e amigos como Chris Martin ou David Guetta.

Avicii - My Last Show — A fazer par com o documentário, o filme que registou a última actuação de Avicii, no clube Ushuaïa, em Ibiza.

Quarta-feira, 1 de Janeiro

Imortal: O Homem Que Quer Viver Para Sempre — Documentário de Chris Smith, autor de FYRE: O Grande Evento que Nunca Aconteceu e da série A Grande Onda da Nazaré, é focado em Bryan Johnson e a sua prática infatigável de bem-estar.

A Burla do Amor — Filme sobre dois irmãos napolitanos endividados que planeiam enganar uma herdeira rica para se salvar, mas que acabam apaixonados. Com Antonio Folletto e Laura Adriani.

Sinto a Tua Falta — "O amor da vida da inspectora Kat Donovan desaparece sem deixar rasto." Não é uma maneira muito animada de começar o ano, Netflix. Porém, piora. Onze anos depois, ela vê uma fotografia dele numa aplicação de encontros e de repente há um mistério por trás do homicídio do pai também.

Quinta-feira, 2 de Janeiro

A Vida Segundo Philomena Cunk — Não somos de intrigas, mas a Netflix não tem esta estreia em lado algum das suas listas de novidades para a imprensa. É estranho, mas não tão desconcertante quanto o humor seco e inquebrável de Diane Morgan. Depois de se ter dedicado ao Mundo, agora é a vez da Vida. Intriga-se com tantas montanhas e vales e "poças" e perturba-se perante a quantidade de edifícios, de carros e estradas que tiveram de se conter perante esta incómoda natureza. É só um exemplo. É como de David Brent fosse David Attenborough. Mas Cunk.

SkyShowtime

Terça-feira, 31 de Dezembro

Apartment 7A — Filme passado em Nova Iorque em 1965, e que é uma prequela do clássico de terror Rosemary’s Baby. O que aconteceu no edifício Bramford antes de Rosemary se mudar para lá? Há uma bailarina ambiciosa, um casal mais velho e abastado e um produtor da Broadway. E uma noite estranha que deixa a certeza de que o edifício está assombrado — ou algo parecido.

Quinta-feira, 2 de Janeiro

Sweetpea — Série britânica de comédia negra sobre uma jovem que a vida trata mal e que desata a matar pessoas más. Adaptada do romance homónimo de C.J. Skuse, de 2017, é protagonizada por Ella Purnell (rosto conhecido de Yellowjackets). Estreiam-se os primeiros três episódios, seguidos de um por semana.

Filmin

Terça-feira, 31 de Dezembro

Casamento — Série que a BBC estreou em 2022 e onde Nicola Walker e Sean Bean retratam uma relação matrimonial em quatro episódios de 60 minutos. Stefan Golaszewski realiza e escreve este drama, que navega 27 anos de uma relação íntima que tem, naturalmente, altos e baixos.

TVCine+

Sexta-feira, 27 de Dezembro

Horizon: Uma Saga Americana – Capítulo 1 — Podia chamar-se "Kevin Costner nunca viu um cavalo que não quisesse montar", mas é Horizon e é mais uma história à la western protagonizada pelo conhecido actor, com  Sienna Miller, Sam Worthington, Jena Malone e Owen Crow Shoe ao seu lado. Em quatro capítulos, são contados os 15 primeiros anos da colonização do Oeste americano.

Amazon Prime Video

Sexta-feira, 27 de Dezembro

Culpa Tua — Filme espanhol que sucede a Culpa Minha e que relata como o amor entre Noah e Nick se mantém inabalável apesar das intromissões dos pais de ambos — até que entram novos desafios, nomeadamente que cada um dos lados do casal vai começar a vida activa em diferentes frentes.

Domingo, 29 de Dezembro

Feriado Sangrento — "Depois de um motim na Black Friday terminar em tragédia, um misterioso assassino inspirado no Dia de Acção de Graças aterroriza Plymouth, Massachusetts - o local de nascimento do infame feriado" é a sinopse oficial. Mais americano impossível?

Perdido no streaming

Stonehouse. Algures enquanto fazia Succession, Matthew Macfadyen arranjou tempo para esta minisérie de três episódios sobre John Stonehouse, o deputado trabalhista britânico que fingiu a sua própria morte depois de se ter metido em problemas de finanças e ter tentado a sua sorte na espionagem. O melhor disto tudo, além de Macfadyen e de Keeley Hawes, é que a história é absolutamente verdadeira. Passou-se em 1974 e é hilariante. A sério. Está na Filmin.

Ler para ver

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PÚBLICO: Squid Game 2 regressa "mais intrigante", diz o criador da série sul-coreana

The Guardian: The 50 best TV shows of 2024

The New York Times: Best TV Episodes of 2024

Vulture: The 10 Best TV Needle Drops of 2024

Los Angeles TimesSquid Game was a surprise global smash. Will Season 2 be even bigger for Netflix?

Até ao Próximo Episódio.